domingo, 25 de novembro de 2012 0 comentários

A Mala De Viagem



                                                               

Conta-se uma fábula sobre um homem que caminhava vacilante pela estrada, levando uma pedra numa mão e um tijolo na outra. Nas costas carregava um saco de terra; em volta do peito trazia vinhas penduradas. Sobre a cabeça equilibrava uma abóbora pesada.
Pelo caminho encontrou um transeunte que lhe perguntou: "Cansado viajante, por que carrega essa pedra tão grande?"
"É estranho", respondeu o viajante, "mas eu nunca tinha realmente notado que a carregava." Então, ele jogou a pedra fora e se sentiu muito melhor.
Em seguida veio outro transeunte que lhe perguntou: 'Diga-me, cansado viajante, por que carrega essa abóbora tão pesada?"
"Estou contente que me tenha feito essa pergunta", disse o viajante, "porque eu não tinha percebido o que estava fazendo comigo mesmo." Então ele jogou a abóbora fora e continuou seu caminho com passos muito mais leves.
Um por um, os transeuntes foram avisando-o a respeito de suas cargas desnecessárias. E ele foi abandonando uma a uma. Por fim, tornou-se um homem livre e caminhou como tal. Qual era na verdade o problema dele? A pedra e a abóbora?
Não.
Era a falta de consciência da existência delas. Uma vez que as viu como cargas desnecessárias, livrou-se delas bem depressa e já não se sentia mais tão cansado. Esse é o problema de muitas pessoas. Elas estão carregando cargas sem perceber. Não é de se estranhar que estejam tão cansadas!
O que são algumas dessas cargas que pesam na mente de um homem e que roubam as suas energias?
  1. Pensamentos negativos.
  2. Culpar e acusar outras pessoas.
  3. Pemitir que impressões tenebrosas descansem na mente.
  4. Carregar uma falsa carga de culpa por coisas que não poderiam ter evitado.
  5. Auto-piedade.
  6. Acreditar que não existe saída.
Todo mundo tem o seu tipo de carga especial, que rouba energia. Quanto mais cedo começarmos a descarregá-la, mais cedo nos sentiremos melhor e caminharemos mais levemente.

(Extraído do livro "Psycho-Pictography", de Vernon Howard.)

sábado, 24 de novembro de 2012 0 comentários

A Carroça De Platão


                                               A Carroça De Platão 



Platão da Silva é um conhecido carroceiro de uma cidade do interior.
Sua carroça é antiga mas ele a mantém em ótimo estado de conservação, porque é com ela que Platão ganha seu pão de cada dia.
A carroça é puxada por dois bonitos cavalos. Um deles é branco, o outro, preto.
Um dia, Platão da Silva estava transportando uma carga de alto valor quando, chegando a uma determinada rua, os cavalos entraram em desacordo. Um deles queria subir. O outro queria descer.
Diante do impasse, Platão se viu em dificuldade.
Se os cavalos insistissem em forçar a carroça para lados opostos, ela provavelmente se partiria. Platão ficaria sem transporte e sem meio de vida.
Se os cavalos, na luta, se soltassem, ele ainda teria a carroça mas ficaria parado no meio da rua, sem poder levá-la dali para lugar algum.
Platão tinha um problema para resolver.
Mas ele também tinha alguma vantagem. Diferente dos cavalos, que são seres irracionais, e da carroça, que é um objeto inanimado, Platão podia e sabia pensar. Ele podia usar sua cabeça para resolver a situação.
Porém Platão percebeu que, antes de qualquer coisa, para resolver a situação da maneira mais favorável a si mesmo, ele precisava decidir se queria subir ou descer a rua.

Autoria Desconhecida
quinta-feira, 22 de novembro de 2012 0 comentários

A Idade de Ser Feliz

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, 
somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível 
sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los 
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. 
Uma só idade para a gente se encantar com a vida 
e viver apaixonadamente 
e desfrutar tudo com toda intensidade 
sem medo nem culpa de sentir prazer. 
Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida 
à nossa própria imagem e semelhança 
e vestir-se com todas as cores 
e experimentar todos os sabores 
e entregar-se a todos os amores 
sem preconceito, nem pudor. 
Tempo de entusiasmo e coragem 
em que todo desafio é mais um convite à luta 
que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, 
de novo e de novo, 
e quantas vezes for preciso. 
Essa idade tão fugaz na vida da gente 
chama-se PRESENTE 
e tem a duração do instante que passa ...

Mário Quintana
quarta-feira, 21 de novembro de 2012 0 comentários

O Outro Psicanalítico



O OUTRO
O Outro, com O maiúsculo, não é uma pessoa individual (embora o Outro freqüentemente seja projetado em indivíduos), nem é uma espécie de universal, como "O outro generalizado" de Mead (1925, p. 193). Para Lacan (1956) o Outro é um campo, "o próprio fundamento da intersubjetividade" (p. 35), marcando o lugar no qual estrutura e significado se tornam possíveis. Lacan ilustra isso com uma anedota contada por Freud: "Por que você está mentindo para mim?", pergunta aflito um dos personagens. "Sim, por que você está mentindo para mim, dizendo que vai para a Cracóvia, de modo que eu pense que você vai para Lemberg, quando na realidade você está indo para a Cracóvia? (p. 36; Freud 1905, p. 115). Para que essa anedota tenha sentido, o ouvinte tem que ir além das próprias palavras, além de seu significado literal, e também além dos próprios personagens que falam, passando a uma outra dimensão ou posição além das palavras e dos personagens que falam, a um campo que estrutura de maneira significativa as palavras e os personagens que falam. Compreendendo essa anedota afirmamos o estatuto do Outro não como uma outra pessoa numa relação Eu-Tu, mas o Outro como o terceiro estrutural que dá perspectiva a qualquer relação Eu-Tu, o Outro como lugar potencial para situar-se e julgar a verdade de qualquer contrato de duas partes. Lacan lembra-nos de que o próprio fato de que é possível mentir é uma afirmação dessa terceira posição, porquanto mentir exige que aquele que fala leve em conta a perspectiva da verdade, a perspectiva proporcionada pelo Outro. Por essa razão Lacan (1977) refere-se ao Outro como "fiador da Boa-Fé" (p. 173) e "testemunha da Verdade" (p. 305).
Essa referência ao Outro ressoa com o emprego que Freud fez da expressão de Fechner, ein anderer Schauplatz (uma outra cena), para descrever onde os sonhos ocorrem e como referência geral ao inconsciente (Freud 1900a, p. 48; 1900b, p. 50-51). Como "discurso do Outro" que o transcende, o inconsciente articula aquilo que é recebido de outro lugar e aquilo que é recebido primariamente é o "desejo do Outro". O desejo, como veremos, surge num contexto intersubjetivo estruturado pelo Outro, pelo campo da linguagem e do inconsciente. Lacan (1977) escreve que ë "como desejo do Outro que o desejo do homem encontra uma forma" (p. 311), isto é, "é qua [enquanto] outro que ele deseja" (p. 312). Na matriz da relação mãe-bebê, o desejo do indivíduo encontra sua forma, torna-se inconscientemente estruturado pelo - e como - desejo de um outro, e essa identificação do desejo do indivíduo com o de um outro nunca poderá ser completamente dissolvida, é o dinamismo expressado em repetição, e persiste conforme é estruturado pelos significantes.
Lacan ilustra a descoberta freudiana por meio de círculos excêntricos, círculos cujos centros não coincidem e que não podem ser englobados e unificados por um círculo maior com um único centro. Ele adverte que "se ignorarmos a radical excentricidade do self em relação a si mesmo com a qual o homem é confrontado, em outras palavras, a verdade descoberta por Freud, estaremos falsificando tanto a ordem quanto os métodos da mediação psicanalítica" (p. 171). Não podemos mediar essa divisão como analistas se acreditamos que o paciente pode tornar-se uma "pessoa total" ou um "self completo". Lacan se opõe "a qualquer referência a totalidade no indivíduo" (p. 80), porque o in-divíduo não pode ser concebido dada a divisão introduzida pelo "sujeito do inconsciente" (pp. 128, 299). Assim Lacan insiste em que a "radical heteronomia que a descoberta de Freud mostra formando uma lacuna dentro do homem nunca mais poderá ser coberta sem que o que quer que seja empregado para esconder isso seja profundamente desonesto" (p. 172).
sexta-feira, 16 de novembro de 2012 0 comentários

Jacques Lacan

Jacques Lacan


JACQUES LACAN (1901-1981) foi o seguidor que mais contribuiu e deu continuidade à obra 
de Freud, e soube articular a psicanálise a diferentes campos do saber, como arte, literatura, 
ciência e filosofia. A Zahar é responsável pela publicação da obra de Lacan no Brasil: seus 
Escritos, Outros escritos e Seminários, além de textos incluídos na série Paradoxos de Lacan.
quinta-feira, 15 de novembro de 2012 0 comentários

Freud está de Volta Parte III




Desejos Ocultos
O que chama a atenção nessas idéias falsas é a presença de desejo, uma impressão que Fotopoulou confirmou com a análise quantitativa de 155 das confabulações do paciente. As falsas crenças do paciente não eram aleatórias - eram geradas pelo "princípio de prazer" que, segundo Freud, é central para o inconsciente. O homem simplesmente reconstruía a realidade como queria que fosse. Observações semelhantes foram relatadas por outros pesquisadores, como Martin Conway, de Durham, e Oliver Turnbull, da Universidade de Gales. Eles são neurocientistas cognitivos, não psicanalistas, mas interpretam suas descobertas em termos freudianos, alegando, basicamente, que os danos à região límbica frontal que produzem as confabulações prejudicam os mecanismos de controle cognitivo, que são a base da monitoração normal da realidade, e libertam da inibição as influências implícitas do desejo na percepção, na memória e no julgamento.
Freud argumentava que o princípio do prazer, na verdade, exprimia impulsos primitivos, animais. Para seus contemporâneos vitorianos, a idéia de que o comportamento humano fosse no fundo governado por compulsões sem nenhum propósito mais nobre que a auto-realização carnal era simplesmente escandalosa. O escândalo se atenuou nas décadas seguintes, mas o conceito freudiano do homem como animal foi mantido em segundo plano pelos cientistas cognitivos. Agora ele está de volta. Neurocientistas como Donald W. Pfaff, da Universidade Rockefeller, e Jaak Panksepp, da Universidade Estadual de Bowling Green, acreditam hoje que os mecanismos instintivos que regem a motivação humana são ainda mais primitivos do que imaginava Freud. Nossos sistemas básicos de controle emocional são iguais aos de nossos parentes primatas e aos de todos os mamíferos. No nível profundo da organização mental que Freud chamou de id, a anatomia e a química funcionais de nosso cérebro não são muito diferentes daquelas dos animais que vivem nos currais ou dos bichos de estimação.

No entanto, os neurocientistas modernos não aceitam a classificação freudiana da vida instintiva humana como simples dicotomia entre sexualidade e agressão. Através do estudo de lesões e do efeito de drogas, além da estimulação artificial do cérebro, eles identificaram pelo menos quatro circuitos instintivos básicos em mamíferos, sendo que alguns deles se sobrepõem. São o sistema de "recompensa" ou de "busca" (que inclui a procura de prazer); o sistema da "raiva" (que comanda a agressão raivosa, mas não a predatória); o sistema de "medo-ansiedade"; e o do "pânico" (que inclui instintos como os que comandam os impulsos maternais ou as relações sociais). Também se investiga a existência de outras forças instintivas, como um sistema de "brincadeira". Todos esses sistemas cerebrais são regulados por neurotransmissores, substâncias químicas que carregam mensagens entre os neurônios do cérebro.

O sistema de busca, controlado pelo neurotransmissor dopamina, apresenta uma incrível semelhança com a "libido" freudiana. De acordo com Freud, os impulsos sexuais ou libidinosos são um sistema de busca de prazer que move a maioria de nossas interações com o mundo. Pesquisas recentes mostram que seu equivalente neural está diretamente envolvido em quase todas as formas de compulsão e vício. É interessante notar que as primeiras experiências de Freud com a cocaína - na maioria delas ele aplicava a droga em si mesmo - o convenceram de que a libido devia ter algum fundamento neuroquímico. 


Farmácia Freudiana
Ao contrário de seus sucessores, Freud não via motivo para o antagonismo entre psicanálise e psicofarmacologia. Ele antevia com entusiasmo o dia em que a "energia do id" seria diretamente controlada por "determinadas substâncias químicas". Os tratamentos que combinam psicoterapia com medicamentos que agem no cérebro são considerados hoje a melhor abordagem para muitos transtornos. E tecnologias de imagem mostram que a psicoterapia atua no cérebro de modo semelhante aos medicamentos.
As idéias de Freud também estão ressurgindo na ciência que trata do sono e dos sonhos. Sua teoria dos sonhos - a de que são um modo de vislumbrar os desejos inconscientes - foi desacreditada com a descoberta da correlação estreita entre o movimento rápido dos olhos (REM) e o ato de sonhar, nos anos 1950. A visão freudiana perdeu praticamente toda a credibilidade nos anos 1970, quando pesquisadores mostraram que o ciclo do sonho era controlado pela substância química acetilcolina, produzida em parte "desimportante" do tronco encefálico. O sono REM acontecia automaticamente, mais ou menos a cada 90 minutos, e era desencadeado por substâncias químicas e estruturas cerebrais que nada tinham a ver com a emoção e a motivação. Essa descoberta queria dizer que os sonhos provavelmente não tinham nenhum significado; eram simplesmente histórias concatenadas pelo cérebro para tentar refletir a atividade cortical aleatória provocada pelos acontecimentos do dia.

Estudos mais recentes vêm mostrando que o sono REM e o sonho são estados dissociáveis, controlados por mecanismos distintos, embora interajam. O sonho é produzido por uma rede de estruturas reunidas nos circuitos instintivo-motivacionais do cérebro anterior. Essa revelação deu origem a uma miríade de teorias sobre os sonhos, sendo que a maior parte delas remete a Freud.


Fibras dos Sonhos
Mais intrigante é a observação feita por mim e por outros cientistas de que os sonhos param totalmente quando determinadas fibras nas profundezas do lobo frontal se rompem - um sintoma que coincide com a redução geral do comportamento motivado. A lesão é a mesma que era deliberadamente produzida na lobotomia pré-frontal, um procedimento cirúrgico obsoleto usado para controlar alucinações. Esse tipo de operação foi substituído na década de 1960 por medicamentos que reduzem a atividade da dopamina nos mesmos sistemas cerebrais. O sistema de busca, portanto, pode ser o produtor básico dos sonhos.

Se a hipótese for confirmada, a teoria de que os sonhos estão ligados à realização dos desejos pode voltar a determinar a agenda do estudo do sono. Mas, mesmo que prevaleçam outras interpretações, todas elas demonstram que a conceituação "psicológica" dos sonhos voltou a ser cientificamente respeitável. Poucos neurocientistas ainda negam - como já fizeram sem medo - que o conteúdo dos sonhos tenha um mecanismo básico emocional.
Nem todos são entusiastas do ressurgimento dos conceitos freudianos na ciência mental. Não é fácil para a geração mais antiga de psicanalistas, por exemplo, aceitar que seus alunos e colegas mais jovens podem e devem sujeitar a sabedoria convencional a um nível totalmente novo de escrutínio biológico. Mas um número animador de cientistas mais velhos, dos dois lados do Atlântico, - comprometidos a pelo menos manter a mente aberta, como demonstram minha menção anterior aos psicanalistas eminentes que fazem parte do conselho da Neuro-Psychoanalysis e as muitas cabeças grisalhas da Sociedade Internacional de Neuropsicanálise.

Para os neurocientistas mais antigos, a resistência ao retorno das idéias psicanalíticas vem de um tempo, no início de suas carreiras, em que o edifício da teoria freudiana era praticamente indestrutível. Eles não reconhecem nem a confirmação parcial de alguns conceitos fundamentais de Freud; exigem sua completa eliminação. Nas palavras de J. Allan Hobson, um renomado psiquiatra especialista em sono da Faculdade de Medicina de Harvard, o recente interesse em Freud é nada menos que uma inútil readaptação de dados modernos a parâmetros teóricos antiquados. Mas, como disse Panksepp em entrevista de 2002 à revista Newsweek, para os neurocientistas que estão entusiasmados com a reconciliação entre neurologia e psicanálise, "não é uma questão de provar se Freud estava certo ou errado, mas de terminar o serviço".

Se esse serviço puder ser concluído - se os "novos parâmetros intelectuais para a psiquiatria" de Kandel forem estabelecidos -, vai virar passado o tempo em que as pessoas com dificuldades emocionais tinham de escolher entre a terapia psicanalítica, que pode estar em desacordo com a medicina moderna e as drogas prescritas pela psicofarmacologia, que desvaloriza a conexão entre as substâncias químicas cerebrais que manipula e as complexas trajetórias de vida que culminam nos problemas emocionais. A psiquiatria do futuro promete oferecer aos pacientes assistência fundamentada na compreensão integrada do que realmente governa o que sentimos e fazemos.
Quaisquer que sejam as terapias que o amanhã nos reserva, os pacientes só podem se beneficiar de um entendimento melhor de como o cérebro funciona. À medida que os neurocientistas modernos se voltam mais uma vez para as questões profundas da psicologia humana que tanto preocuparam Freud, é gratificante perceber que podemos construir sobre os alicerces que ele edificou, em vez de começar do zero. Mesmo que identifiquemos os pontos fracos das teorias de Freud e corrijamos, revisemos e completemos seu trabalho, é maravilhoso ter o privilégio de terminar o serviço.
Mark Solms é professor de neuropsicologia na Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, e conferencista honorário em neurocirurgia na Real Escola de Medicina e Odontologia de Londres. Também é diretor do Centro Arnold Pfeffer de Neuropsicanálise do Instituto Psicanalítico de Nova York e neuropsicólogo consultor do Centro Anna Freud em Londres. Solms é editor e tradutor da série de quatro volumes The Complete Neuroscientific Works of Sigmund Freud, a ser lançada pela Karnak Books. No Brasil, publicou O que é neuropsicanálise.
sábado, 10 de novembro de 2012 0 comentários

Freud está de volta Parte II



Juntos, esses pesquisadores estão desenvolvendo o que Kandel chama de "novos parâmetros intelectuais para a psiquiatria". Dentro desses parâmetros, a ampla organização da mente esboçada por Freud parece destinada a funcionar como a teoria da evolução de Darwin em relação à genética molecular - um modelo ao qual novos detalhes vão se ajustando. Ao mesmo tempo, neurocientistas revelam provas de algumas das teorias de Freud e desvendam os mecanismos que estão por trás dos processos mentais descritos por ele. 


Motivação Inconsciente
Quando Freud introduziu a noção central de que a maioria dos processos mentais que determinam nossos pensamentos, sentimentos e desejos acontece inconscientemente, a idéia foi rejeitada. Mas descobertas atuais confirmam a existência e o papel essencial dos processos mentais inconscientes. Um exemplo é que o comportamento de pacientes incapazes de lembrar de acontecimentos passados por causa de danos a estruturas que armazenam lembranças no cérebro é claramente influenciado pelos fatos "esquecidos". Os neurocientistas cognitivos analisam casos assim, determinando sistemas de memória diferentes, que processam a informação "explicitamente" (conscientemente) ou "implicitamente" (inconscientemente). Freud havia dividido a memória da mesma forma.
Os neurocientistas também identificaram sistemas de memória que controlam o aprendizado emocional. Em 1996, na Universidade de Nova York, LeDoux demonstrou a existência, sob o córtex consciente, de uma via neuronal que conecta informações de percepção com estruturas primitivas do cérebro responsáveis pela geração de reações de medo. Como essa via atravessa o hipocampo - que gera memórias conscientes -, acontecimentos do presente desencadeiam lembranças emocionalmente importantes, provocando sensações conscientes que parecem irracionais, como "homens de barba me dão arrepios".

A neurociência mostrou que as principais estruturas cerebrais essenciais para a formação de memórias conscientes não são funcionais durante os dois primeiros anos de vida, explicando o que Freud chamou de amnésia infantil. Como supôs Freud, não é que tenhamos esquecido nossas lembranças mais antigas; simplesmente não conseguimos trazê-las à consciência. Mas essa incapacidade não as impede de afetar os sentimentos e o comportamento adultos. Seria difícil encontrar um neurobiólogo que não concorde que as experiências da primeira infância, principalmente entre mãe e bebê, influenciam o padrão das conexões cerebrais de modo a moldar nossa personalidade e saúde mental futuras. Apesar disso, não é possível lembrar dessas experiências conscientemente. Fica cada vez mais claro que boa parte de nossa atividade mental é motivada pelo inconsciente.
Repressão Justificada
Mesmo que sejamos fundamentalmente guiados por pensamentos inconscientes, isso não prova a afirmação de Freud de que reprimimos informações desagradáveis por vontade própria. No entanto, começam a se acumular estudos que apóiam essa noção. O mais famoso deles foi feito em 1994 pelo neurologista Ramachandran, da Universidade da Califórnia em San Diego, com pacientes que sofriam de "anosognosia". Danos na região parietal direita do cérebro dessas pessoas fazem com que não percebam que possuem problemas físicos graves, como um membro paralisado. Depois de ativar artificialmente o hemisfério direito de uma paciente, Ramachandran observou que ela percebeu que seu braço esquerdo estava paralisado - e estava assim desde que ela havia sofrido um derrame, oito dias antes. Ela era capaz de reconhecer a ausência e tinha registrado inconscientemente esso fato nos oito dias anteriores, apesar de suas negativas conscientes de que houvesse algo errado.
Quando o efeito da estimulação acabou, a mulher não apenas voltou a acreditar que seu braço estava normal, mas também esqueceu a parte da entrevista em que tinha percebido que o braço estava paralisado, apesar de lembrar dos mínimos detalhes da conversa. Ramachandran concluiu: "A extraordinária implicação teórica dessas observações é que as lembranças realmente podem ser seletivamente reprimidas. Ver essa paciente me convenceu, pela primeira vez, da realidade do fenômeno da repressão que compõe a pedra fundamental da teoria psicanalítica clássica".

Assim como os pacientes com o "cérebro dividido", cujos hemisférios permanecem sem ligação entre si, os pacientes de anosognosia abstraem fatos indesejados, dando explicações plausíveis, mas inventadas, sobre ações motivadas pelo inconsciente. O hemisfério esquerdo emprega claramente os "mecanismos de defesa" freudianos, diz Ramachandran.

Fenômenos análogos também vêm sendo demonstrados em pessoas com cérebros intactos. Como disse o neuropsicólogo Martin A. Conway, da Universidade Durham, na Inglaterra, em comentário publicado na Nature em 2001, se efeitos significativos de repressão podem ser produzidos em pessoas normais num cenário inocente de laboratório, imagine só o tamanho dos efeitos produzidos pelo turbilhão emocional das situações traumáticas da vida real. 

Freud foi mais além. Para ele, não somente grande parte de nossa atividade mental é inconsciente e vive em negação, mas a parte reprimida do inconsciente opera de acordo com um princípio diferente do "princípio de realidade" que governa o ego consciente. Esse tipo de pensamento inconsciente está ligado ao desejo e ignora tanto as leis da lógica quanto o tempo.
Se Freud está certo, danos a estruturas inibidoras do cérebro (a morada do ego "repressor") liberariam formas irracionais, ligadas ao desejo, de funções mentais. É exatamente isso que se observa em pacientes com danos na região límbica frontal, que controla os aspectos essenciais da autoconsciência. Os pacientes apresentam uma síndrome conhecida como psicose de Korsakoff: não percebem que têm amnésia e preenchem as lacunas da memória com histórias inventadas, as confabulações.

A neuropsicóloga da Durham, Aikatereni Fotopoulou, estudou um paciente desse tipo em meu laboratório. O homem não conseguia se lembrar, em nas sessões de 50 minutos em minha sala, durante 12 dias consecutivos, que já me conhecia e que havia se submetido a uma operação para retirar um tumor dos seus lobos frontais, o que causava a amnésia. Para ele, não havia nada de errado com sua saúde. Quando questionado sobre a cicatriz na cabeça, ele confabulava explicações absolutamente improváveis: que tinha sofrido uma cirurgia odontológica, ou uma operação de ponte de safena. Ele realmente tinha passado por esses procedimentos - anos antes.

Da mesma forma, quando questionado sobre quem eu era e o que ele fazia em meu laboratório, dizia que eu era um cirurgião dentista, um companheiro de bebida, um cliente em consulta profissional, um colega de time de um esporte que não praticava havia décadas ou um mecânico que estava consertando um de seus vários carros esporte (que ele não possuía). Seu comportamento era coerente com essas falsas crenças: ele olhava para a cerveja sobre a mesa ou para o carro através da janela. 




terça-feira, 6 de novembro de 2012 0 comentários

Freud está de volta Parte I



Na primeira metade do século 20, as idéias de Sigmund Freud dominaram as explicações sobre o funcionamento da mente. Seu pressuposto básico era que nossas motivações permanecem em sua maior parte no inconsciente. Mais que isso, são mantidas longe da consciência por uma força repressora. O aparato executivo da mente (o ego) rejeita iniciativas do inconsciente (o id) que estimulam comportamentos incompatíveis com nossa concepção civilizada de nós mesmos. A repressão é necessária porque esses impulsos se manifestam na forma de paixões incontroláveis, fantasias infantis e compulsões sexuais e agressivas.

Quando a repressão não funciona, dizia Freud até sua morte, em 1939, surgem as doenças mentais: fobias, ataques de pânico e obsessões. O objetivo da psicoterapia, portanto, era rastrear os sintomas neuróticos até suas raízes inconscientes e aniquilar seu poder através de sua confrontação com a análise madura e racional.
Conforme as pesquisas sobre a mente e o cérebro se sofisticaram, a partir da década de 1950, os especialistas se deram conta de que as evidências fornecidas por Freud eram bem tênues. Seu principal método de investigação não era a experimentação controlada, mas a simples observação de pacientes no cenário clínico, combinada a inferências teóricas. Os tratamentos com remédios ganharam força, e a abordagem biológica das doenças mentais deixou a psicanálise nas sombras. Se Freud estivesse vivo, é possível que até saudasse essa reviravolta. 

Neurocientista muito respeitado até hoje, ele freqüentemente fazia comentários como "as deficiências de nossa descrição provavelmente desapareceriam se já pudéssemos substituir os termos psicológicos por termos fisiológicos e químicos". 
Na década de 1980, os conceitos de ego e id eram considerados antiquados, mesmo em certos círculos psicanalíticos. Freud era passado. Na nova psicologia, o motivo de as pessoas deprimidas se sentirem mal não é a destruição das primeiras ligações sentimentais da infância - há um desequilíbrio nas substâncias químicas de seu cérebro. A psicofarmacologia, no entanto, não oferece uma grande teoria sobre a personalidade, as emoções e as motivações - uma nova concepção do que realmente governa o que sentimos e o que fazemos. Sem esse modelo, os neurocientistas concentraram seu trabalho em pontos específicos e deixaram de lado o quadro geral.

Esse quadro está voltando, e a surpresa é: não é muito diferente do que o delineado por Freud há um século. Ainda estamos longe de um consenso, mas um número cada vez maior de neurocientistas está chegando à mesma conclusão de Eric R. Kandel, da Universidade Columbia, o Prêmio Nobel de 2000 em fisiologia ou medicina: a psicanálise "ainda é a visão da mente mais intelectualmente satisfatória e coerente".
Freud está de volta, e não apenas na teoria. Grupos interdisciplinares reunindo os campos antes distantes e muitas vezes contrários da neurociência e da psicanálise se formaram em praticamente todas as grandes cidades do mundo. Essas redes, por sua vez, uniram-se na Sociedade Internacional de Neuropsicanálise, que organiza um congresso anual e publica a bem-sucedida revista Neuro-Psychoanalysis. O conselho editorial da publicação, formado por uma constelação de especialistas da neurociência comportamental contemporânea - incluindo Antonio R. Damasio, Kandel, Joseph E. LeDoux, Benjamin Libet, Jaak Panksepp, Vilayanur S. Ramachandran, Daniel L. Schacter e Wolf Singer -, é o maior testemunho do renovado respeito pelas idéias de Freud.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012 0 comentários

Teoria da personalidade conforme Alfred Adler





Alfred Adler nasceu de uma família de classe média em Viena, em 1870, e morreu na Escócia em 1937. Foi um dos fundadores da Sociedade Psicanalítica de Viena e depois seu presidente. Não demorou muito para que começasse a desenvolver idéias que divergissem das de Freud. Formou, então, seu próprio grupo, denominando-o grupo do sistema holístico da psicologia individual.
A abordagem criada por Adler compreende as pessoas como sendo totalidades integradas dentro de um sistema social. Sustenta a motivação do homem como sendo fundamentada pelas solicitações sociais. Para Adler, o homem procura contato com os outros, empreende atividades sociais em cooperação, põe o bem-estar social acima do interesse próprio, adquirindo um estilo de vida que é, predominantemente, orientado para o meio externo.
Adler manifesta uma preocupação biológica, tanto quanto Freud e Jung. Freud enfatiza o sexo, Jung os padrões primitivos de pensamento e Adler o interesse social.
Adler cria alguns conceitos muito importantes para a psicologia da personalidade:
Self – corresponde a um sistema altamente personalizado e subjetivo que interpreta e tornam significativas as experiências do organismo. É criador, unitário, consistente e soberano na estrutura da personalidade.
É algo que intervém entre os estímulos que agem sobre a pessoa e as respostas que ela oferece. O homem constrói sua personalidade com a matéria-prima da hereditariedade e da sua experiência. O self criador dá sentido à vida; cria tanto o ideal como os meios de atingi-lo. É o princípio ativo da vida humana.
Estilo de vida – corresponde ao princípio do sistema pelo qual a personalidade funciona; é o todo que comanda as partes. É o princípio que explica a singularidade da pessoa. Cada pessoa tem um estilo de vida e não há dois iguais.
Todos têm o mesmo objetivo, a superioridade, mas há inúmeras maneiras de atingi-lo. Toda conduta de uma pessoa tem origem em seu estilo de vida. Este forma-se na infância, por volta dos quatro anos de idade e, daí por diante, as experiências são assinaladas e utilizadas de acordo com ele. É uma compensação para determinada inferioridade.
Luta pela superioridade – corresponde ao objetivo superior do homem na sua luta contra os obstáculos: ser agressivo, poderoso superior.
“Superioridade é algo análogo ao conceito de self em Jung, ou ao princípio de auto-realização de Goldstein. É um esforço da personalidade no sentido de completar-se. É ‘a força que arrasta para cima.’” (Hall & Lindzey)
Todas as funções do homem seguem a direção da luta pela superioridade, que é inata, é um princípio dinâmico preponderante – uma luta pela plena realização de si mesmo.
Inferioridade e compensação – há a inferioridade orgânica, pois, para Adler, cada região do corpo apresenta uma inferioridade básica, inferioridade essa que existe em virtude de herança ou de alguma anomalia do desenvolvimento.
Depois Adler ampliou o conceito, incluindo quaisquer sentimentos de inferioridade, tanto os que decorrem de incapacidades psicológicas ou sociais sentidas subjetivamente, como os que se originam de fraqueza ou deficiência física.
No princípio, Adler correlacionava a inferioridade com feminilidade, cuja compensação ele chamou de “protesto masculino”. Os sentimentos de inferioridade decorrem de um senso de imperfeição em alguma esfera da vida. Adler afirmava que os sentimentos de inferioridade não são indícios de anormalidade; são a causa de todo melhoramento na vida humana.
Sob condições normais o sentimento de inferioridade ou um senso de imperfeição é a grande mola propulsora da humanidade. O homem é impulsionado pela necessidade de superar sua inferioridade e arrastado pelo desejo de ser superior.
Interesse social – corresponde à verdadeira e inevitável compensação pela natural fraqueza dos seres humanos. É quando a luta pela superioridade torna-se socializada.
Adler acreditava que o interesse social é inato; que o homem é uma criatura social por natureza e não por hábito. Contudo, à semelhança de qualquer outra aptidão natural, esta predisposição inata não surge espontaneamente. Ela torna-se atuante quando orientada e treinada.
É esse interesse social inato que motiva o homem a subordinar o interesse pessoal ao bem-estar comum.
Finalismo de ficção – Adler descobriu a idéia de que o homem é motivado mais pelas expectativas do futuro do que por suas experiências do passado. Esses objetivos de ficção eram, para Adler, a causa subjetiva dos acontecimentos psicológicos.
Adler identificou a teoria de Freud com o princípio da causalidade e sua própria teoria com o princípio do finalismo.
“Só o objetivo final pode explicar a conduta humana.” (Adler, 1930)
Esse objetivo final pode ser uma ficção, isto é, um ideal impossível de realizar-se mas que é, não obstante, um estímulo real para o esforço humano e para a explanação última de sua conduta. Adler acreditava, contudo, que a pessoa podia libertar-se da influência dessas ficções e enfrentar a realidade quando necessário, o que o neurótico é incapaz de fazer.
Conclusão
Adler interessou-se, especialmente, pelas espécies de influências que predispõem a criança para um defeituoso estilo de vida. Descobriu alguns fatores importantes, como as crianças com inferioridades, as crianças mimadas, as crianças rejeitadas.
As crianças com enfermidades físicas e mentais sofrem muito e têm tendência a se sentir deficientes face às solicitações da vida. Em geral, consideram-se fracassadas. Se, porém, tiverem pais compreensivos e encorajadores, poderiam compensar suas inferioridades e transformar sua fraqueza em força.
Muitos homens famosos começaram a vida com deficiências orgânicas, que depois superaram. Constantemente, e com veemência, Adler levantou sua voz contra os males da superproteção; pois, para ele, esse é o maior castigo que se pode impor à uma criança.
As crianças superprotegidas não conseguem desenvolver sentimentos sociais; tornam-se déspotas, à espera de que a sociedade se conforme com seus desejos egoístas. Adler considerava isso danoso à sociedade.
A rejeição também produz conseqüências desastrosas nas crianças. Maltratadas na infância, tornam-se adultas inimigas da sociedade. Seu estilo de vida é dominado pela necessidade de vingança.
Essas condições – enfermidade orgânica, superproteção e rejeição – produzem concepções errôneas sobre o mundo, resultando num estilo patológico de vida.

Bibliografia


- REIS, MAGALHÂES, GONÇALVES – Alfred Adler e a psicologia individual, cap.3 In: Teorias da Personalidade, ed. Pedagógica e universitária ltda., São Paulo, 1984.
- HALL, LINDZEY – Teorias culturalistas: Adler, Fromm, Horney e Sullivan, cap.4 In: Teorias da personalidade, ed. Pedagógica e universitária ltda., São Paulo, 1973.
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