Olhando então para o lado direito, pôde
ver ao longe, uma enorme indústria que
lançava um pó branco no ar. O vento
trazia o pó até a folhagem das árvores. Mesmo
distante, dava para ver que algumas
árvores ao redor da indústria estavam totalmente
brancas e muitas outras estavam mortas.
“O branco das árvores é a poluição da
indústria. Justo daquela que se diz tão
preocupada com o meio-ambiente...” Da janela
dava pra ver também a estradinha que
passava em frente à indústria e seguia até a
entrada da cidade. Por ela passavam
vários operários que deixavam o seu turno, todos
com um aspecto triste, sofrido e de
insatisfação. Alguns conversavam, outros tossiam,
outros simplesmente acompanhavam aquele
cortejo disperso e lúgubre.
Ao mesmo tempo que o rapaz satisfez as
suas primeiras curiosidades, outras
imediatamente foram surgindo: Por que o
aspecto taciturno e sofrido dos operários?
Eles não deviam estar satisfeitos por
terem um trabalho e, principalmente, por ter
acabado o seu expediente? Por que uma
empresa tida como modelo na cidade não se
preocupa com o pó lançado sobre as
árvores? E por que é justamente ela a que mais
fala em defesa do meio ambiente?
Ao retomar a cabeça para dentro da casa,
o rapaz deparou-se com o velho Américo de
pé ao seu lado, com um sorriso algo
maroto estampado nos lábios.
E então? – perguntou o filósofo – O que
viu agora?
O rapaz contou a sua experiência e as
novas inquietações surgidas. O velho ouviu tudo
atentamente e foi conversando também com
o jovem.
- Bem filho, você quebrou a janela. Creio
que agora você não precisa mais de mim.
Este foi o início de sua descoberta da
filosofia. Você foi um bom aluno e já começou a
filosofar. Para prosseguir, vá resolver
suas novas inquietações. Mas jamais se
esqueça: nunca olhe as coisas somente através
das janelas - e fazendo um gesto vago
em direção aos livros acrescentou – o dia
que precisar de livros...
O rapaz estava eufórico. Sorriu um pouco
embasbacado. Tinha a sensação de que,
enfim, compreendera. – Tenho que ir
embora agora, não é?
- Mas apareça sempre para conversarmos.
Não pense que já sabe tudo...
- Com certeza. Estarei sempre aqui.
Após despedirem-se, o jovem saiu e nem se
preocupou de pegar o caderno na porta.
- E o caderno? Você esqueceu!
- Pode ficar com ele. Não precisei
mesmo...
- Lembre-se de me pagar o concerto da
janela! O rapaz, já virando uma curva na
estrada, fez sinal de positivo, sorriu e
desapareceu na estrada.
Alguns anos se passaram. Em contato com
os amigos, o jovem tentava, depois de
muito tempo de busca, relatar aos amigos
e fazê-los entender as suas descobertas
com relação a vários aspectos da
realidade. Conversava sobre as falsas verdades que
prevaleciam entre os homens, sobre a
manipulação das pessoas por interesses de
grupos, sobre o sentido da vida do ser
humano, sobre as estruturas sociais
massacrantes... Mas nem sempre conseguia
convencer. Muitos nada entendiam, não
queriam entender, fechavam os ouvidos e
até se chateavam com a conversa. Estes,
eram sempre os mesmos e sempre iguais,
nunca mudavam. Viviam na sua vidinha
medíocre na ilusão de estarem felizes e
satisfeitos. Eram controlados pelo mundo e
moviam-se sem vontade própria, embora se
achassem livres. Mas na verdade, eles
não haviam quebrado a janela...
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