O rapaz estava ansiosíssimo.
- O que você vê ali? – perguntou o velho
apontando para a janela.
- Uma janela.
O velho sorriu.
- Uma janela – acrescentou o rapaz,
querendo mostrar-se inteligente – mas com uma
paisagem atrás. – Olhou para o velho e
este ainda sorria.
- A paisagem é formada por um rio,
árvores, capim rasteiro. – Ainda o sorriso do
filósofo.
- Um rio com uma forte correnteza –
continuou o jovem -, as árvores com uma
coloração branca do lado direito da
folhagem, o capim molhado... Ah! Uma chuvinha
leve molha o capim.
O velho levantou-se, ainda sorrindo, e
murmurou baixinho: “é um começo...” Foi se
afastando em direção à escrivaninha sob o
olhar interrogativo do jovem.
- Fique à vontade, eu tenho umas
coisinhas a fazer.
Dizendo isso foi sentar-se à escrivaninha
e começou a folhear uns manuscritos. O
visitante ficou confuso, olhou para a
janela pensativo e tentou ver algo mais na
paisagem que ainda não tinha dito. Não
conseguiu. “O que o velho quer?” Continuou
vendo a paisagem através do vidro. Ela
continuava a mesma.
- É bonita a paisagem, né? – perguntou ao
filósofo.
O velho pareceu nem ouvir. “O que tenho
que dizer?” O rapaz continuava olhando para
a janela. Nada havia mudado.
“O que isso tem a ver com eu querer
aprender filosofia? O que é a filosofia afinal?
Levantou-se e foi em direção à estante de
livros. Escolheu um com os olhos e quando
estendeu a mão para pegá-lo foi
repreendido pelo velho.
- Não. Não pegue nenhum livro aí.
- Não pode? – perguntou o rapaz meio
assustado.
- Por enquanto não.
“Que diabo de lição é esta?” O jovem
estava totalmente confuso. “Será que este velho
é caduco? Eu quero aprender e nem posso
olhar um livro?” Sentou-se novamente em
frente à janela e ficou pensativo. Tudo
estava igual.
Algumas horas se passaram e a tarde
começava a morrer. O velho levantou-se e
dirigiu-se ao rapaz, que não havia tirado
os olhos da janela.
Já está ficando tarde. É melhor você ir.
- Mas... E a aula? – O velho sorriu mais
uma vez abriu a porta para o jovem sair.
- Boa tarde, filho. Não esqueça o caderno
lá fora.
O rapaz zangou-se. Ficou uns segundos
parado, olhou uma última vez para a janela e
depois saiu. – Boa tarde... Professor.
Meu nome é Américo. Pode me chamar assim.
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