terça-feira, 23 de julho de 2013

UMA JANELA PARA A FILOSOFIA Parte II

O rapaz estava ansiosíssimo.
- O que você vê ali? – perguntou o velho apontando para a janela.
- Uma janela.
O velho sorriu.
- Uma janela – acrescentou o rapaz, querendo mostrar-se inteligente – mas com uma
paisagem atrás. – Olhou para o velho e este ainda sorria.
- A paisagem é formada por um rio, árvores, capim rasteiro. – Ainda o sorriso do
filósofo.
- Um rio com uma forte correnteza – continuou o jovem -, as árvores com uma
coloração branca do lado direito da folhagem, o capim molhado... Ah! Uma chuvinha
leve molha o capim.
O velho levantou-se, ainda sorrindo, e murmurou baixinho: “é um começo...” Foi se
afastando em direção à escrivaninha sob o olhar interrogativo do jovem.
- Fique à vontade, eu tenho umas coisinhas a fazer.
Dizendo isso foi sentar-se à escrivaninha e começou a folhear uns manuscritos. O
visitante ficou confuso, olhou para a janela pensativo e tentou ver algo mais na
paisagem que ainda não tinha dito. Não conseguiu. “O que o velho quer?” Continuou
vendo a paisagem através do vidro. Ela continuava a mesma.
- É bonita a paisagem, né? – perguntou ao filósofo.
O velho pareceu nem ouvir. “O que tenho que dizer?” O rapaz continuava olhando para
a janela. Nada havia mudado.
“O que isso tem a ver com eu querer aprender filosofia? O que é a filosofia afinal?
Levantou-se e foi em direção à estante de livros. Escolheu um com os olhos e quando
estendeu a mão para pegá-lo foi repreendido pelo velho.
- Não. Não pegue nenhum livro aí.
- Não pode? – perguntou o rapaz meio assustado.
- Por enquanto não.
“Que diabo de lição é esta?” O jovem estava totalmente confuso. “Será que este velho
é caduco? Eu quero aprender e nem posso olhar um livro?” Sentou-se novamente em
frente à janela e ficou pensativo. Tudo estava igual.
Algumas horas se passaram e a tarde começava a morrer. O velho levantou-se e
dirigiu-se ao rapaz, que não havia tirado os olhos da janela.
Já está ficando tarde. É melhor você ir.
- Mas... E a aula? – O velho sorriu mais uma vez abriu a porta para o jovem sair.
- Boa tarde, filho. Não esqueça o caderno lá fora.
O rapaz zangou-se. Ficou uns segundos parado, olhou uma última vez para a janela e
depois saiu. – Boa tarde... Professor.

Meu nome é Américo. Pode me chamar assim.

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