domingo, 19 de fevereiro de 2012

Psicanálise e Doença Psicossomática I


Psicanálise e doença Psicossomática


Por Andreneide Dantas (Artigo).


A psicanálise se ocupa do sujeito que a ciência deixa de lado, presta atenção àquilo
que o médico não escuta. Não medimos taxas no sangue, não radiografamos ou
diagnosticamos, mas escutamos o que o sujeito tem a dizer sobre esse
corpo manipulado, enlouquecido por uma doença que resiste aos medicamentos.
Doenças nas quais muitas vezes a medicina não encontra um “sentido”.
Quando o indivíduo nasce, ele tem um organismo, um corpo despedaçado, um
conjunto de órgãos que só através da linguagem vai ter estatuto de unidade corporal.
Este corpo a que me refiro, é um corpo que precisa do outro estruturado como um
discurso para que este corpo de carne se transmute em corpo simbólico.
O sujeito, antes de nascer, já existe. Está na palavra mesmo antes de ter um corpo e
continua a existir depois de sua morte, quando não tem mais um corpo. Isto é possível
porque a duração do sujeito está sustentada pelo significante. É a linguagem que
permite uma margem além da vida.
Precisamos esquecer que temos um corpo para não enlouquecer. Não ficamos
escutando as batidas de nosso coração, medindo a pressão ou sentindo a respiração -
salvo os hipocondríacos.
Mas o que acontece aos pacientes que apresentam as doenças chamadas
“psicossomáticas”? Doenças cuja etiologia não são explicadas?
Aqui os transtornos orgânicos fazem os órgãos presentes, existe um retorno do autoerotismo
que exclui o gozo da palavra. Sabemos que no auto-erotismo - como já está
dito - o sujeito prescinde do outro como semelhante, tem um auto gozo, gozo no
próprio corpo. Quantos de vocês já devem ter escutado de pessoas que sofrem
de “doenças psicossomáticas” : “Esta doença me acompanha há tantos anos”; e fica
como única companheira mesmo. Ou então: “Carrego comigo esta doença há dez anos
“. E esta paciente precisava ficar trancada em um quarto escuro durante três dias,
longe do marido e filhos.
Muitas vezes uma doença, assim como também uma droga, toma o lugar do parceiro
sexual. O sujeito não goza sexualmente com o semelhante, mas com a doença ou com
a droga que ingere. Asma, úlcera, alergias, obesidade, transtornos digestivos,
tumores e hemorróidas. Nesta lista incluem-se também anorexia, epilepsia, diabetes,
psoríase, etc. Existe uma vasta relação de doenças que estão intimamente ligadas
ao que o sujeito deixa de falar, com a renúncia de seu desejo. O que não é dito faz
escrita no próprio corpo. Obstruindo uma veia, destruindo um órgão, abrindo feridas ou
descamando a pele do corpo. Feridas que mostram que as coisas não vão bem, que
algo não está sendo dito, em palavras.
A psoríase por exemplo, dá a ver , não para ler mas para mostrar e angustiar ao outro.
Aqui o gozo não fica reservado às zonas erógenas, mas mete-se no corpo, corporificase
fazendo a lesão. Escreve no corpo algo que é da ordem do número, um grito,
uma escrita que parece ilegível. Mas o analista com seu desejo pode escutar e
possibilitar ao paciente que ele coloque em palavras o que está incrustrado em sua
carne. Os pacientes com “doenças psicossomáticas”, geralmente têm outros casos na
família, mas não é comprovado que são transmitidos geneticamente. Constatamos que
são transmitidos pelo discurso. Às vezes é uma forma, ou a única forma de
identificação ao pai. Exemplo de uma paciente que, tendo desconfiança que era filha
adotiva, faz uma psoríase, como sua avó paterna.
O analista não aborda os órgãos nem o organismo ou a enfermidade.
O único que trata é do discurso . Presta atenção ao sujeito, ou aquilo, que do corpo o
representa. Não se ocupa de “fenômenos psicossomáticos”, mas, de significantes.
É preciso escutar o paciente e conduzir a cura até a abertura de um espaço onde o que
é resposta fixa -- “doença psicossomática” - transforme-se em uma pergunta sobre seu
desejo. Só assim o paciente pode colocar seu sofrimento no discurso, e não mais
atribuir ao destino o que lhe acontece.
Podemos com nossa escuta oferecer um lugar e um tempo para que o sujeito faça
dessa letra, desse número inscrito em sua carne, letra discursiva. Que isto possa
aparecer nos sonhos, lapsos e esquecimentos, que possa transformar-se em palavras,
em um dito o que está preso em um grito.

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