segunda-feira, 11 de março de 2013

Neuroses e os estudos de Freud Parte I


   

Neuroses e os estudos de Freud



Verifica-se na forma freudiana que as neuroses aparecem para a psicanálise no centro de toda questão de Freud: a sexualidade e sua importância para a vida mental (Freud, 1905). Desenvolvendo uma teoria da sexualidade, Freud demonstrou uma gama de determinantes das questões que levam o homem ao sofrimento. Dentre essas questões, Freud pontuou alguns fenômenos concernentes a estados corporais específicos de natureza eminentemente somática, característicos do que se denominou “neurose atual”, onde se incluem a neurastenia, a neurose de angústia e hipocondria. Os sintomas mais básicos que aparecem na neurastenia revelam a brutalidade do fator sexual para a vida humana quando aquele aparece com um problema. Nela encontramos sintomas com cefaléias, prisões de ventre e outros que decorrem de uma atividade sexual não satisfatória segundo Freud (1898), como por exemplo, o excesso de masturbação. Há também na neurose de angústia sintomas de natureza diversa, como distúrbios respiratórios ou cardíacos, diarréias e congestões, os que aparecem quando há uma deflexão da libido de sua aplicação satisfatória, a qual Freud (1895) encontrou de formas mais objetiva e factual no coito interrompido. Na hipocondria não se verificavam sintomas somáticos concretos; contudo ela concerne a experiência de ordem também corporal, como nosofobia (medo de ficar doente), ligada aos sintomas da neurose de angustia. Freud marca esses fenômenos denominando-os como “neuroses atuais”, conferindo a eles o caráter de contemporaneidade dos fatores sexuais envolvidos em sua sintomatologia, em oposição ao caráter de historicidade da sexualidade conferindo aos sintomas referentes ao grupo das psiconeuroses (Freud, 1898). Neste ínterim, o termo neurose atual é concebido na sua relação de oposição à historicidade subjetiva que aparece associada ao fenômeno psiconeurose.De acordo com a obra de Freud, verifica-se seu movimento no sentido de explicar como se processam as somas de excitação nos enquadres das neuroses atuais. Na neurose de angústia, há um “desvio” da libido da sua aplicação satisfatória. Tal excitação é de ordem somática, de maneira que há um acumulo somático da excitação sexual. Freud afirma que isso vem acompanhado de um “decréscimo da participação psíquica nos processo sexuais”. No climatério feminino e masculino há um aumento na produção de excitação. Por razão desse aumento, “a psique se mostra relativamente insuficiente para maneja-lo”. Tal insuficiência psíquica na neurose atual é, segundo Freud, relativa à soma de excitação. Isso levaria Freud a postular que a neurose de angústia é o resultado da excitação sexual somática que não foi elaborada psiquicamente. Mesclados na maioria das vezes com as psiconeuroses (Freud, 1898), esses fenômenos põem em destaque a importância da excitação sexual em todos os processos psíquicos que levam à neurose segundo a teoria psicanalítica. Freud deparou-se com sintomas de natureza diversa (converções histéricas, neuroses de angústia, idéias obsessivas, neurastenias, etc) observando que a etiologia de cada manifestação, guardadas suas peculiaridades, tem como centro estrutural de toda a questão acerca da neurose, a sexualidade. Temos como ponto decisivo dentro da teoria freudiana, a revelação de que os fatores sexuais trabalhados nas neuroses atuais influenciaram com grande peso a interferência do caráter universal do fator sexual nas psiconeuroses (Freud 1923). Clinicamente, as neuroses atuais e as psiconeuroses aparecem mescladas, simultaneamente. A neurose atual se centralizou como complexo eclosivo da psiconeurose, à medida que, na atualidade da dinâmica psicosexual do paciente, a neurose atual vem como a manifestação bruta de uma complexidade sexual psiconeurótica que encontra sua etiologia num passado correlato a sexualidade infantil. A ligação entre as duas neuroses se configura a partir daquilo o que Freud denominou de “libido”. De acordo com o dizer de Freud, a neurose atual está contida na psiconeurose, configura-se como “grão de areia no centro da pérola”, seu núcleo.O conceito de neurose atual que Freud isolou das psiconeuroses, traçando uma linha divisória, talvez signifique bem mais do que uma tentativa de ordenar a mistura caótica de sintomas com que ele se defrontava na prática clínica dos primeiros tempos.Naquele começo, na década de 1890, Freud dividia as neuroses em neuroses atuais e psiconeuroses. As Neuroses Atuais, compreendendo a neurastenia, a neurose de angústia e, depois por acréscimo, a hipocondria, deviam-se, acreditava ele, a frustrações sexuais, que de alguma forma desconhecida, liberavam toxinas no organismo. Como eram causadas por fatores fisiológicos diretos, sua cura tinha de ser fisiológica, isto é, uma alteração das práticas sexuais que a provocaram. Freud postulou que a neurastenia era causada por masturbação excessiva, a neurose de angústia, por estimulação não descarregada, especialmente o coitus interruptus.. As psiconeuroses eram a histeria e a neurose obsessiva. Esta linha divisória, sabemos agora, era mais do que uma definição nosológica. Marcava a existência de um fosso que separa os processos simbólicos de uma outra forma de pensar, para qual não há um nome definido no campo da psicanálise. Os pacientes histéricos e os obsessivos absorveram a intenção de Freud, que lhes dedicou o melhor de seus potenciais de investigação. Graças ao esforço de entender esses pacientes e de decifrar seus enigmas, Freud descobriu os fenômenos da repressão, da transferência e da conversão, e de seu correlato inevitável: o caminho que leva de volta o psíquico ao somático,qualificou, então, como característica básica dos processos histéricos e definiu o destino de uma produção simbólica submetida ao processo da repressão. O tratamento devia seguir a pista das fantasias reprimidas e devia traze-las de volta ao campo da consciência, de onde tinham sido expulsas. A noção básica e, daí por diante, fundamental introduzida em As Neuropsicoses de Defesa era a de que as neuroses representam uma defesa contra idéias insuportáveis. Importa reconhecer que, neste conceito, o fenômeno central, as idéias insuportáveis são a de ordem do simbólico. Com graus de maior ou menor sofisticação, a psicanálise jamais se afastou da órbita dos fenômenos simbólicos e de suas vicissitudes. A histeria constituiu-se em pedra angular do paradigma freudiano. Ela se tornou a matriz de seu arcabouço teórico e cumpriu a mesma função que outras entidades nosológicas desempenharam, como fenômeno matricial, gerando teorias sistematizadas que se constituíram em “Escolas de Psicanálise”. Sabemos que o pensamento de Melanie Klein, Bion, Kohut ou Winnicott, deriva de matrizes clínicas diversas das de Freud e diferentes entre si.

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